quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

FREI JOÃO - 26.01.2011

Estava chegando de viagem e recebi a noticia da morte de Frei João Echavari. Conheci Frei João quando eu, ainda menino, me preparava para Primeira Comunhão, em Castelo. Numa de nossas aulas aprece um frade novo, recém chegado ao Brasil, falando ainda com o carregado sotaque espanhol.

Com certeza Frei José Osés, o pároco na época, o empurrou para a turma das crianças, para conversar um pouco com elas. E ele foi entrando e nos perguntando: “Deus está em todo lugar?”. E nós em uníssono gritávamos: “Sim!”. E ele retomou, para nos colocar em dúvida: “Até na panela de feijão?”.

Assim foi sempre Frei João. Quantas histórias. Quem conviveu com ele, com certeza, conhece alguma. Quanto desbravamento, no lombo de burro, para atender as capelas, sobretudo as de origem italianas. E ele se tornou mais italiano que os italianos colonizadores.

Em cada capela um campo de bola de pau. Esporte que ocupava um lugar especial no seu coração. Depois do Olaria, seu time. E ai vinha outra de suas máximas: “missa curta, comida pouca, bola!”. Com as inseparáveis bananas e a cachacinha. Craque do jogo da “mora”, produzia uma algazarra com a turma que rodeava a mesa. Creio que amava mais a Fazenda do Centro do que as suas terras espanholas. Por isso foi acertado levar o seu corpo para ser sepultado lá.

Levamos dele três lições importantes:

Alguém que se inculturou.

Assumiu a cultura dos italianos que o rodeavam. Parecia um deles. Com seus costumes, suas tradições, suas rezas...

Sua simplicidade.

Homem humilde. Sempre no meio do povo. Confundido muitas vezes com um simples empregado da fazenda. Muitos que o iam procurar, se deparavam com um homem de roupas sujas, suado, com enxada na mão ou montado num velho trator. E perguntavam pelo Frei João. E ele dizia: “Vou chamá-lo.”. E ia lá dentro, tomava um banho, trocava de roupa e aparecia diante dos olhos espantados da visita.

Sua perseverança.

Veio novo para o Brasil. Viveu aqui longos anos. Deu testemunho de consagração, na vida religiosa, junto com outros de sua família que também foram padres e freiras. Gastou-se aqui nestas terras.

Deixa incontáveis amigos. Gerações e gerações foram iniciadas por ele na caminhada da Igreja. Batizados por ele. Casados por ele. Confessados por ele...

A Ordem Agostiniana tem a alegria de contá-lo entre os seus filhos ilustres.

Nossa Diocese teve o privilégio de conviver com este homem singular por longo tempo. Ganhamos todos nós.

Com certeza já ouviu de Jesus a frase de acolhida: “Vinde bendito de meu Pai. Receba como herança o Reino que meu Pai lhe preparou desde a criação do mundo.”. (Mt 25, 34)

CI240111
Mons. Antonio Romulo Zagotto

Fonte: Site Atenas Notícias

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